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Meme do Caixão: Conheça a História Real

A História do Meme dos Homens que Dançavam com um Caixão: De Ritual Funerário em Gana a Fenômeno Global

Nos últimos anos, poucos memes conseguiram capturar a atenção global de maneira tão peculiar quanto o “meme do caixão”.

Este fenômeno da internet, caracterizado por vídeos de homens dançando enquanto carregam um caixão ao som da música eletrônica “Astronomia”, de Vicetone & Tony Igy, tornou-se um marco cultural digital.

O que começou como uma prática funerária tradicional em Gana, na África, transformou-se em uma sensação viral que atravessou fronteiras, línguas e culturas.

Neste artigo, exploraremos a origem, o contexto cultural, a ascensão à fama, o impacto e as controvérsias em torno do “meme do caixão”, também conhecido como “Coffin Dance” ou “Dancing Pallbearers”.


Origens: A Tradição Funerária em Gana

O meme do caixão tem suas raízes em uma prática funerária única realizada em Gana, um país localizado na costa oeste da África.

Diferentemente de muitas culturas ocidentais, onde os funerais são frequentemente associados a solenidade e luto, em Gana, especialmente entre o povo Ga da região de Grande Acra, os funerais podem ser celebrações vibrantes da vida do falecido.

Essa visão reflete a crença de que a morte não é o fim, mas uma transição para outra fase da existência, muitas vezes celebrada com música, dança e rituais elaborados.

O começo

No início dos anos 2000, Benjamin Aidoo, um agente funerário de Prampram, cidade costeira de Gana, teve a ideia de transformar o transporte de caixões em um espetáculo coreografado.

Aidoo fundou o grupo Nana Otafrija Pallbearing and Waiting Service, conhecido localmente como “Dada awu” (que significa “papai morreu” em tradução livre).

Inicialmente, o grupo oferecia serviços tradicionais de transporte de caixões.

Mas Aidoo percebeu que poderia inovar ao adicionar coreografias animadas, transformando o cortejo fúnebre em uma performance artística.

Em entrevista à BBC em 2017, Aidoo explicou: “Quando o cliente vem até nós, perguntamos: ‘Você quer algo solene ou um pouco mais teatral?

Ou talvez uma coreografia?’”.

Essa prática, que pode parecer inusitada para culturas que associam funerais à sobriedade, rapidamente ganhou popularidade em Gana.

O Sucesso

As famílias passaram a contratar os “pallbearers” (carregadores de caixão) para realizar danças elaboradas, muitas vezes vestindo trajes coloridos — preto para cerimônias mais formais, branco ou vermelho para celebrações festivas — escolhidos pelos parentes do falecido.

Além dos dançarinos, as famílias podiam contratar figurantes para chorar ou dançar, criando um evento que misturava luto e celebração.

Esses funerais, que chegam a custar até 15 mil euros em um país onde muitos vivem abaixo da linha da pobreza, tornaram-se um símbolo de status e uma forma de honrar os mortos com grandeza.


A Viralização: Do Documentário da BBC ao TikTok

Embora a tradição dos dançarinos de caixão já existisse há anos, ela permaneceu relativamente desconhecida fora de Gana até 2017, quando a BBC produziu um documentário sobre os rituais funerários do país.

Dança com um Caixão

O vídeo, que mostrava os carregadores de caixão dançando com precisão e sincronia, capturou a atenção de espectadores internacionais por sua singularidade.

A Associated Press também publicou imagens semelhantes, contribuindo para a disseminação da prática.

A transformação dessas imagens em meme, no entanto, só ocorreu em 2020, durante os primeiros meses da pandemia de COVID-19.

Tik tok

Em fevereiro daquele ano, um usuário do TikTok teve a ideia de combinar um clipe dos dançarinos de Gana com a música eletrônica “Astronomia”, originalmente lançada em 2010 por Tony Igy e remixada pela dupla holandesa Vicetone.

A montagem foi feita de forma a criar um contraste humorístico: o vídeo começava com uma cena de perigo iminente — como alguém prestes a cair de um penhasco ou sofrer um acidente — e, no momento crítico, cortava abruptamente para os homens dançando com o caixão.

A implicação era clara: a pessoa da primeira parte do vídeo “morreu”, e os dançarinos representavam o funeral.

A música “Astronomia”, com seu ritmo cativante e tom quase cômico, amplificava o efeito humorístico.

Música do Meme do Caixão

O meme explodiu no TikTok e rapidamente se espalhou para outras plataformas, como YouTube, Twitter (atual X), Reddit e WhatsApp.

A fórmula era simples, mas eficaz: uma situação de risco seguida pela dança do caixão, sugerindo um desfecho trágico de forma mórbida e engraçada.

A universalidade do humor negro e a facilidade de replicação do formato fizeram com que o meme transcendesse barreiras culturais.

Em pouco tempo, milhares de variações surgiram, com montagens que iam desde falhas em esportes até erros políticos ou situações do cotidiano.


Impacto Global e Reações

O “meme do caixão” tornou-se um dos primeiros grandes fenômenos virais da quarentena, refletindo o contexto de incerteza e ansiedade da pandemia.

Em um momento em que a morte estava no centro das atenções globais, o meme oferecia uma forma de lidar com o medo por meio do humor.

Ele também destacou a capacidade da internet de transformar práticas culturais locais em entretenimento global, muitas vezes sem que o público compreendesse completamente o contexto original.

Em Gana, os dançarinos, liderados por Benjamin Aidoo, ficaram surpresos com a fama repentina.

Inicialmente, eles não sabiam que suas imagens estavam sendo usadas em memes.

Quando descobriram, Aidoo e seu grupo decidiram abraçar a viralidade.

Em maio de 2020, eles divulgaram um vídeo no Twitter agradecendo aos profissionais de saúde que combatiam a COVID-19.

Além disso, incentivava as pessoas a ficarem em casa, com a frase: “Fique em casa ou dance com a gente”.

A mensagem, que combinava humor e conscientização, foi amplamente compartilhada e reforçou a relevância do meme no contexto da pandemia.

O meme também inspirou campanhas de conscientização.

Em Portugal, a Guarda Nacional Republicana (GNR) usou o vídeo para alertar sobre os riscos do coronavírus, sugerindo que as pessoas “dancem em casa” em vez de se arriscarem.

No Brasil, outdoors com imagens dos dançarinos e a frase “Fique em casa ou dance conosco” apareceram em algumas cidades, reforçando a mensagem de isolamento social.


Controvérsias e Reflexões Culturais

Apesar de seu sucesso, o meme do caixão não esteve isento de críticas.

Para algumas pessoas, especialmente em culturas onde os funerais são eventos solenes, o uso de imagens de um ritual fúnebre para fins humorísticos foi considerado desrespeitoso.

Em Gana, embora os dançarinos tenham aceitado a fama, houve debates sobre como a prática foi descontextualizada.

O que para os ganeses era uma celebração da vida foi transformado em uma piada sobre a morte, muitas vezes sem reconhecimento da riqueza cultural por trás do ritual.

Além disso, o meme levantou questões sobre a apropriação cultural na era digital.

A prática funerária de Gana foi reduzida a um clipe de poucos segundos, frequentemente desprovido de sua história e significado.

Enquanto alguns argumentam que a viralidade trouxe visibilidade à cultura ganense.

Mas outros apontam que ela foi explorada sem que a maioria dos criadores de memes reconhecesse ou respeitasse sua origem.

Outra crítica veio do uso do meme em contextos sensíveis.

Durante a pandemia, algumas montagens associaram o vídeo a mortes reais ou tragédias, o que gerou desconforto entre aqueles que viam o humor negro como insensível.

No entanto, para muitos, o meme funcionava como uma válvula de escape, uma forma de enfrentar a morbidez do momento com leveza.


Legado e Continuidade

O “meme do caixão” deixou um impacto duradouro na cultura da internet.

Muitos citam o meme como um exemplo de como a globalização digital transforma práticas locais em fenômenos universais.

Para Benjamin Aidoo e seus dançarinos, a fama trouxe oportunidades, como entrevistas internacionais e maior reconhecimento de seu trabalho.

O grupo continuou a oferecer seus serviços em Gana, agora com a consciência de que são celebridades globais.

Além disso, o meme inspirou outras formas de expressão cultural.

Em 2020, o partido libertário Girchi, na Geórgia, criou sua própria versão do vídeo, usando trajes tradicionais do país.

Jogos, animações e até mercadorias baseadas no meme surgiram, consolidando seu lugar na cultura pop.


Conclusão

Em conclusão, o “meme do caixão” é mais do que uma simples piada viral; é um estudo fascinante sobre a interseção entre cultura, humor e tecnologia.

O que começou como uma tradição funerária em Gana evoluiu para um fenômeno global que reflete tanto a criatividade quanto as complexidades da era digital.

Ele nos lembra que os memes, embora muitas vezes efêmeros, podem carregar histórias ricas e levantar questões profundas.

É sobre respeito cultural, humor e a forma como lidamos com a morte.

Enquanto Benjamin Aidoo e seus dançarinos continuam a celebrar a vida em Gana, o “Coffin Dance” permanece como um ícone da internet.

Dançando eternamente na memória coletiva do mundo digital.

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