Jon Lech Johansen: O “DVD Jon” e sua Contribuição para a Engenharia Reversa
Jon Lech Johansen, nascido em 18 de novembro de 1983 em Harstad, na Noruega, é um programador norueguês conhecido mundialmente pelo apelido “DVD Jon”.
Filho de um pai norueguês e uma mãe polonesa, Johansen é um engenheiro de software autodidata que se destacou por seus trabalhos em engenharia reversa de formatos de dados protegidos por direitos autorais.
Sua história ganhou notoriedade no final dos anos 1990, quando, aos 15 anos, contribuiu para o desenvolvimento do software DeCSS, que permitia descriptografar o sistema de proteção de DVDs.
Os Primórdios e o DeCSS
Johansen começou a programar ainda criança e abandonou o ensino médio no primeiro ano para se dedicar a projetos pessoais.
Em 1999, frustrado com a incompatibilidade de DVDs comerciais no sistema operacional Linux (devido ao Content Scramble System – CSS, um mecanismo de proteção contra cópias), ele colaborou com outros programadores anônimos no projeto DeCSS.
Embora Johansen tenha afirmado que desenvolveu principalmente a interface gráfica do usuário (GUI), o software completo permitia descriptografar DVDs, possibilitando a reprodução em plataformas não licenciadas.
O DeCSS foi publicado na internet, o que atraiu a ira da indústria cinematográfica hollywoodiana, representada pela Motion Picture Association (MPA) e pela DVD Copy Control Association (DVD-CCA).
Em janeiro de 2000, a polícia norueguesa invadiu a casa de Johansen, confiscando equipamentos, após denúncias das associações americanas.
Ele foi acusado de violação de leis de acesso não autorizado a dados, com pena máxima de até dois anos de prisão.
Detalhes sobre o DeCSS
O DeCSS (abreviação de De-Content Scramble System) é um programa de computador desenvolvido em 1999 que permite descriptografar o sistema de proteção Content Scramble System (CSS) usado em DVDs comerciais.
Seu objetivo principal era possibilitar a reprodução de DVDs em sistemas operacionais de código aberto, como o Linux, que não tinham players licenciados pela indústria cinematográfica.
O que é o CSS e por que o DeCSS foi criado?
O Content Scramble System (CSS) é um sistema de gerenciamento de direitos digitais (DRM) introduzido em 1996 pela DVD Copy Control Association (DVD-CCA) e pela Matsushita e Toshiba.
Ele utiliza uma criptografia de 40 bits (considerada fraca mesmo na época) para embaralhar o conteúdo dos DVDs, impedindo cópias não autorizadas e controlando o acesso regional (region coding) e outras restrições, como anúncios não puláveis.
- O CSS envolve autenticação mútua entre o drive de DVD e o player, além de criptografia dos dados de vídeo.
- Players oficiais precisavam de licenças pagas para implementar o CSS, o que excluía sistemas como Linux de reproduzir DVDs legais.
Frustrados com essa limitação, desenvolvedores da comunidade open-source buscaram uma solução.
O DeCSS permitia descriptografar o conteúdo, possibilitando playback em qualquer plataforma e, consequentemente, cópias digitais perfeitas.
Desenvolvimento e envolvimento de Jon Lech Johansen
O DeCSS foi um projeto colaborativo conhecido como MoRE (Masters of Reverse Engineering), envolvendo três pessoas principais, duas delas anônimas.
- A parte principal da descriptografia veio de engenharia reversa de um player de DVD software mal protegido (como o XingDVD), revelando uma chave mestra.
- Um hacker alemão anônimo teria cracked o algoritmo principal.
- Jon Lech Johansen, então com 15 anos, desenvolveu a interface gráfica (GUI) para Windows e publicou o programa em 6 de outubro de 1999 na lista de e-mail LiViD (Linux Video and DVD).
Johansen testou o programa em filmes como The Matrix, que ele possuía legalmente.
O código-fonte vazou logo após a publicação inicial.
Impacto legal e o caso na Noruega
A publicação do DeCSS gerou revolta da indústria hollywoodiana (MPAA e DVD-CCA), que via o programa como facilitador de pirataria.
- Em janeiro de 2000, a polícia norueguesa invadiu a casa de Johansen, confiscando equipamentos, após denúncia das associações americanas.
- Ele foi acusado de violação de dados (§ 145 do Código Penal norueguês), com pena potencial de até 2 anos de prisão.
O julgamento ocorreu em 2002-2003:
- Em janeiro de 2003: Absolvição no Tribunal de Oslo – o juiz argumentou que Johansen acessou DVDs que ele próprio possuía legalmente, sem crime.
- Apelação: Em dezembro de 2003, confirmação da absolvição.
- Em 2005, a Suprema Corte norueguesa recusou novo recurso, encerrando o caso.
A decisão enfatizou o direito do consumidor de usar mídias compradas em qualquer dispositivo, influenciando debates sobre fair use.
Nos EUA, o DeCSS foi considerado ilegal sob o DMCA (1998), levando a processos como o da MPAA contra sites que o hospedavam.
Legado e protestos
O DeCSS simbolizou a resistência contra DRMs restritivos.
Como protesto, ativistas criaram formas criativas de divulgar o código-fonte (considerado “fala protegida” pela Primeira Emenda nos EUA), incluindo haikus, músicas e até impressões em camisetas.
Embora o CSS seja obsoleto hoje (substituído por AACS em Blu-rays), o DeCSS abriu caminho para players como VLC e discussões globais sobre interoperabilidade digital e direitos do consumidor.
Johansen continuou desafiando DRMs, como no FairPlay da Apple e no iPhone.
O Julgamento e a Absolvição
O julgamento começou em dezembro de 2002 no Tribunal Distrital de Oslo.
Johansen, defendido com apoio da Electronic Frontier Foundation (EFF), argumentou que não cometeu crime ao acessar DVDs que ele mesmo possuía legalmente.
Em janeiro de 2003, ele foi absolvido.
A promotoria recorreu, mas em dezembro de 2003, o tribunal de apelação confirmou a absolvição, e em 2004 o caso foi encerrado definitivamente.
A decisão foi vista como uma vitória para os defensores da liberdade digital e do uso justo (fair use), reforçando que consumidores têm direito de reproduzir mídias que compraram em dispositivos de sua escolha.
Carreira Posterior e Outros Feitos
Após o caso, Johansen continuou desafiando sistemas de gerenciamento de direitos digitais (DRM). Em 2005, ele reverse-engineered proteções da Apple (FairPlay no iTunes) e da Microsoft (Windows Media Player).
Em 2007, contribuiu para desbloquear o iPhone original.
Ele se mudou para os Estados Unidos, onde trabalhou como engenheiro de software e cofundou a doubleTwist, uma empresa focada em interoperabilidade de mídia digital, da qual é CEO.
A doubleTwist desenvolveu aplicativos para sincronização de música e vídeo entre dispositivos, com milhões de downloads.
Johansen recebeu o EFF Pioneer Award em 2002 e foi chamado de “herói” por figuras como Håkon Wium Lie, CTO da Opera Software.
Atualmente, reside em Austin, Texas, mantém um blog pessoal (nanocr.eu) com postagens esporádicas até 2025, e tem atividade no GitHub.
Legado
Em conclusão, Jon Lech Johansen simboliza a luta pela acessibilidade digital contra restrições impostas por grandes corporações.
Seu trabalho no DeCSS abriu caminho para discussões globais sobre direitos autorais, DRM e liberdade de software.
Embora controverso para a indústria do entretenimento, ele é celebrado na comunidade de software livre como um pioneiro da engenharia reversa ética.
Em um mundo cada vez mais digital, a história de “DVD Jon” lembra que a inovação muitas vezes surge da curiosidade individual, mesmo enfrentando poderosos interesses estabelecidos.
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