Eliana Zagui: A História de Superação de Eliana Zagui: Uma Vida de Resiliência e Inspiração
Eliana Zagui é um nome que ressoa como sinônimo de superação, força e determinação.
Vítima de poliomielite na infância, ela enfrentou desafios que poucos poderiam imaginar, transformando limitações físicas em uma trajetória de conquistas notáveis.
Sua história, marcada por 43 anos vividos em uma unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas de São Paulo, é um testemunho poderoso da capacidade humana de transcender adversidades.
Este artigo explora a vida de Eliana, suas habilidades extraordinárias, as pessoas que cruzaram seu caminho e o impacto que ela continua a exercer no mundo.
Infância e o Impacto da Poliomielite
Eliana Zagui nasceu em Guariba, no interior de São Paulo, em meados da década de 1970.
Sua vida mudou drasticamente aos dois anos de idade, durante o surto de poliomielite que assolou o Brasil na mesma década.
A poliomielite, uma doença viral que pode causar paralisia permanente, atingiu Eliana de forma severa.
Seus pais, Thereza e Carlos, tentaram vaciná-la, mas, em várias ocasiões, ela estava febril ou com dor de garganta, condições que, na época, levaram os médicos a desaconselhar a vacinação.
O quadro de Eliana piorou rapidamente
Com febre alta e perda de mobilidade nas pernas, ela foi internada em um hospital local, onde os médicos inicialmente não conseguiram diagnosticar a doença.
Após exames mais detalhados, incluindo a retirada de líquido da espinha, confirmou-se a paralisia infantil.
A gravidade de seu estado exigiu sua transferência para o Hospital das Clínicas de São Paulo, onde ela chegou com febre de 39°C, parada respiratória e cianose.
Com 60% dos pulmões comprometidos e o diafragma paralisado, Eliana foi submetida a uma traqueostomia e colocada em um pulmão de aço, equipamento que auxiliava sua respiração.
A partir daquele momento, o hospital tornou-se seu lar.
Eliana perdeu todos os movimentos do corpo, exceto os da cabeça e da boca, e passou a depender de aparelhos e cuidados intensivos para sobreviver.
Apesar das previsões médicas de que ela teria apenas mais algumas horas de vida, Eliana desafiou as expectativas e sobreviveu, tornando-se a última sobrevivente conhecida do surto de poliomielite no Brasil.
Vida na UTI: Uma Infância Diferente

Durante 43 anos, Eliana viveu no Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas, dividindo o espaço com outras crianças que, como ela, foram vítimas da pólio.
Entre elas, formou laços profundos, especialmente com Paulo Henrique Machado, que se tornou seu companheiro inseparável e “irmão” ao longo de quatro décadas.
Juntos, eles criaram uma família improvisada, composta por outras crianças internadas, como Tânia, Pedro, Luciana, Cláudia e Anderson.
Essas crianças, apesar de suas limitações físicas, encontravam formas de se divertir, brincando de boneca ou casinha em suas camas e celebrando momentos como festas juninas no hospital.
No entanto, a vida na UTI também foi marcada por perdas.
Eliana testemunhou a morte de muitos de seus amigos, incluindo, em 2017, a de Paulo Henrique Machado, que deixou um vazio imenso em sua vida.
A frase de Paulo, “viver vale muito a pena“, tornou-se um lema que ecoa na trajetória de Eliana.
Ou seja, a ausência frequente de sua família biológica, devido à distância e às dificuldades financeiras, intensificou o sentimento de abandono.
Sua mãe faleceu há alguns anos, e seu pai teve dificuldade em aceitar sua condição de tetraplegia.
Apesar disso, Eliana encontrou força em si mesma e nos laços que construiu no hospital, transformando a dor em resiliência.
Habilidades Extraordinárias: A Arte de Voar com a Mente
Apesar das limitações físicas, Eliana demonstrou uma capacidade notável de transcender suas condições.
Com apenas o movimento da cabeça e da boca, ela desenvolveu habilidades impressionantes, transformando sua vida em um exemplo de criatividade e determinação.
Educação e Autodidatismo
Eliana se formou no ensino médio, aprendeu inglês e italiano, e fez um curso de história da arte, tudo isso dentro do ambiente hospitalar.
Sua curiosidade intelectual a levou a explorar o mundo por meio de livros, fotos e, mais tarde, da internet, que se tornou uma janela para o mundo exterior.
Pintura com a Boca
Aos oito anos, Eliana começou a escrever com a boca, e aos nove, descobriu a pintura.
O que começou como um hobby logo se tornou uma profissão.
Usando a boca para segurar o pincel, ela criou quadros inspirados na natureza – paisagens, praias, campos, flores e animais –, muitas vezes baseando-se em imagens de livros, já que não tinha acesso direto a esses cenários.
A pintura tornou-se sua principal forma de expressão, representando liberdade e a possibilidade de explorar o mundo que ela não podia tocar fisicamente.
Escrita e o Livro “Pulmão de Aço”
Um dos maiores feitos de Eliana foi a publicação de seu livro autobiográfico, Pulmão de Aço – Uma Vida no Maior Hospital do Brasil, lançado em 2012 pela Belaletra Editora.
Escrito majoritariamente com a boca, segurando uma espátula com uma caneta amarrada, o livro narra sua trajetória, desde a infância na UTI até a busca por independência.
A obra, escrita em primeira pessoa, é descrita como comovente e perturbadora, pois não apenas relata suas experiências, mas também provoca reflexões sobre a vida, a resiliência e o valor da existência.
Na apresentação do livro, Eliana escreveu: “Se fisicamente não posso andar, em minha mente sou capaz de voar sem limites”.
Essa frase encapsula sua filosofia de vida, mostrando como ela transformou suas limitações em oportunidades para criar e inspirar.
Trabalho Voluntário
Além de suas conquistas artísticas e educacionais, Eliana dedicou-se a ajudar outras pessoas.
Durante mais de 20 anos, ela atuou como voluntária em um serviço de apoio emocional por telefone, utilizando sua habilidade de comunicação para oferecer suporte a quem enfrentava crises emocionais.
Foi nesse trabalho que ela conheceu Lucas Negrini, um cabeleireiro de Sumaré que, em um momento de desespero, buscou ajuda.
Eliana o apoiou via Skype, ajudando-o a superar pensamentos suicidas.
Essa conexão marcou o início de uma amizade transformadora.
Pessoas Importantes em Sua Vida
A trajetória de Eliana foi profundamente influenciada por pessoas que cruzaram seu caminho, seja no hospital, seja no mundo exterior.
Paulo Henrique Machado

Paulo, que também viveu na UTI do Hospital das Clínicas por décadas, foi uma figura central na vida de Eliana.
Juntos, eles compartilharam momentos de alegria e tristeza, construindo uma relação de irmandade que resistiu às adversidades.
Como resultado, a morte de Paulo em 2017 foi uma perda significativa, mas seu legado de otimismo e amor pela vida continua a inspirar Eliana.
Lucas Negrini
Lucas Negrini é, sem dúvida, uma das pessoas mais importantes na história recente de Eliana.
Conhecido em 2002 por meio do serviço de apoio emocional, Lucas tornou-se não apenas um amigo, mas um companheiro que mudou sua vida.
Em 2018, ele a acolheu em sua casa em Sumaré, permitindo que Eliana realizasse o sonho de viver fora do hospital.
Lucas abandonou sua rotina para cuidar dela, enfrentando dificuldades financeiras para garantir seu bem-estar.
A amizade entre eles é um exemplo de solidariedade e apoio mútuo, já que Eliana também foi fundamental para ajudar Lucas a superar sua depressão.
Visitas Ilustres

Ao longo dos anos, Eliana recebeu a atenção de figuras públicas que reconheceram sua história inspiradora.
Entre as visitas mais marcantes estão as de Ayrton Senna e Fábio Júnior, que trouxeram momentos de alegria e alívio à sua rotina hospitalar.
Além disso, ela já foi entrevistada pelo Jô Soares.
Essas interações, embora pontuais, reforçaram sua conexão com o mundo exterior e sua crença no poder das histórias humanas.
A Nova Vida Fora do Hospital
Em 22 de dezembro de 2018, após 43 anos na UTI, Eliana deixou o Hospital das Clínicas para viver com Lucas em Sumaré.
A decisão foi planejada com cuidado, já que ela continuava dependente de aparelhos do hospital, como o pulmão artificial.
A mudança representou a realização de um sonho antigo: morar em uma casa de verdade, com cores, plantas e a liberdade de ver a luz do sol quando quisesse.
Na nova casa, ela descobriu prazeres simples, como a convivência com cachorros, passeios à represa e idas a churrascos e barzinhos.
Sua rotina agora mistura velhos hábitos, como a pintura e a leitura, com novas experiências, como o contato direto com a natureza.
Ela também planeja montar um ateliê de pintura e fundar o Instituto Eliana Zagui, uma organização voltada para apoiar pessoas com deficiência, especialmente vítimas de poliomielite.
Embora o projeto tenha enfrentado obstáculos, como a negativa da prefeitura para usar a casa como sede, Eliana e Lucas continuam buscando recursos para torná-lo realidade.
Desafios Atuais e o Sonho de uma Casa Adaptada
Apesar de sua nova vida, Eliana e Lucas enfrentam dificuldades financeiras.
Eles vivem com o salário mínimo que Eliana recebe do governo e os bicos de cabeleireiro de Lucas, o que mal cobre o aluguel, medicamentos e alimentação especial.
Para equipar a casa com itens essenciais, como uma maca adaptada e climatizadores, eles lançaram uma vaquinha virtual, que busca arrecadar R$ 350 mil para tornar o lar acessível e confortável.
Legado e Inspiração
A história de Eliana Zagui é um lembrete poderoso de que as limitações físicas não definem o potencial humano.
Sua capacidade de aprender, criar e ajudar os outros, mesmo em condições extremas, desafia preconceitos e inspira pessoas em todo o mundo.
Sua autobiografia, Pulmão de Aço, e suas pinturas são testemunhos de uma mente que, como ela mesma diz, “voa sem limites”.
Eliana também destaca a importância da vacinação, usando sua própria experiência para alertar sobre as consequências devastadoras da poliomielite.
Sua mensagem é clara: prevenir é essencial, e sua vida é uma prova viva disso.
Conclusão

Em conclusão, Eliana Zagui é mais do que uma sobrevivente; ela é uma artista, escritora, voluntária e, acima de tudo, uma inspiração.
Sua trajetória, marcada por desafios, perdas e conquistas, mostra que a verdadeira força reside na capacidade de encontrar sentido e beleza na vida, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Com o apoio de pessoas como Lucas Negrini e a memória de amigos como Paulo Henrique Machado, Eliana continua a transformar sua história em um legado de esperança e resiliência.
Em outras palavras, sua vida é uma lição de que, mesmo com limitações, é possível voar – não com o corpo, mas com a mente e o coração.
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